Equipe: Infoalt - TEMA: A polêmica das pulserinhas
A polêmica das pulseiras
Como pais e escolas devem lidar com uma nova mania da garotada: usar adereços coloridos que têm conotação sexual
Verônica Mambrini
AULA Algumas escolas proibiram ou restringiram o uso do acessório
Entre os vários modismos que vão e vêm entre crianças e adolescentes, um está causando preocupação a pais e escolas. Pulseirinhas de silicone coloridas e finas, compradas às dúzias por até R$ 2, que se acumulam nos pulsos tanto de garotos como de garotas. A preocupação começa para as famílias e educadores com a possibilidade de que, aqui no Brasil, ela também seja usada como elemento de um jogo em que cada cor corresponde a um comportamento afetivo ou sexual, que pode ir de um abraço, na amarela, a uma relação sexual, na preta. Para exigir o gesto, seria preciso arrebentar a pulseira de quem a traz no pulso. O uso do acessório com conotação sexual começou na Inglaterra, há três meses. O código de cores das “shag bands”, ou pulseiras do sexo, apareceu por escrito primeiro em sites de vendedores online e depois se espalhou por redes sociais na internet.
A onda chegou aqui há um mês e, às vésperas do final do ano letivo, boa parte dos colégios preferiu não proibir o uso para não aguçar a curiosidade dos alunos. Muitos optaram por debater o assunto na escola e enviar comunicados aos pais, orientando-os a conversar com os filhos. “A maioria não está usando com conotação sexual, principalmente as crianças”, diz Quézia Bombonatto, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia. “Elas nem conhecem esse significado. Usam como adereço, enfeite.” Ainda assim, ela acredita que a informação é a melhor forma de evitar que os pais e filhos sejam pegos de surpresa. “A criança vai ter que lidar com a situação se alguém quiser jogar com ela”, afirma. “Ao ser vista usando o acessório, a adolescente pode se sentir convidada a participar do jogo sexual e, no mínimo, pode ter que dar explicações.”
Ao saber da moda na Inglaterra, a secretária Carla Kancelskis, mãe de um garoto de 8 anos e de uma jovem de 17, quis saber da escola dos filhos se havia alguma recomendação. O colégio respondeu que os alunos estavam usando as pulseiras apenas como enfeite, e preferiu não proibi-las para evitar alarde. “Minha filha estava usava as pretas e, quando mostrei uma reportagem contando o que elas significavam, ela tirou e jogou fora”, diz Carla. A jovem disse à mãe que não queria participar do jogo, por isso não fazia sentido usá-las. Com o menino de 8 anos, que ainda não associa as pulseiras à erotização, Carla preferiu não tocar no assunto. Com o tempo, ele perdeu naturalmente o interesse pelo acessório.
Shag Bands Aparentemente inofensivas, pulseiras coloridas, chamadas pelos adolescentes de "pulseiras do sexo", "pulseiras da malhação" ou "pulseira da amizade" estão preocupando pais e escolas. Elas existem em diversas cores e cada cor corresponde a um ato afetivo (beijo no rosto, por exemplo) ou a um ato sexual (sexo oral, onanismo, vaginal, etc). Deram origem a uma brincadeira que leva as crianças a falar de sexo – para angústia dos educadores Era para ser só uma brincadeira de criança – usar, trocar e emprestar as pulseirinhas de plástico coloridas exibidas aos montes nos pulsos de meninos e meninas. Não há nenhuma evidência de que as crianças estivessem chegando às últimas consequências do jogo. Aliás, essa possibilidade é praticamente descartada pelos especialistas. O certo é apenas isto: as pulseiras levaram a garotada a falar sobre sexo. E pais e professores não se sentem preparados a tratar desse assunto com crianças tão novas – na sua maioria, entre 8 e 11 anos. Por serem acessíveis e usadas numa idade em que a opinião do grupo pesa na autoestima e autoaceitação do jovem, é importante que os pais fiquem de olho em como o filho está usando a pulseira. Acreditar que o acessório ajuda os tímidos é um engano que os jovens não devem cometer. Essa nova moda tem alarmado além de pais, as escolas, pois é lá onde os jovens estão sempre em contatos com outros jovens. Entretanto em algumas instituições de ensino, a pulseira foi mais um pretexto para abordar a educação sexual. Os psicólogos, por sua vez, fazem o papel de intermediar o debate pautado no bom senso e na observação de que tanto os pais quanto os filhos têm o direito de emitir opinião sobre o assunto desde quando seja com diálogo e respeito. A opinião de educadores validam o que foi citado acima de que “proibições desse tipo impostos a crianças e adolescentes surtem o efeito contrário. Uns acreditam que proibir só vai aumentar a vontade de usar. Outros, contudo, não vêem outra forma de agir se não explicando os sérios efeitos de se expor com a pulseira do sexo e proibir em seguida. Mesmo usadas como brincadeira inocente, semelhante às coleções de figurinhas, é preciso entender o que está por trás de um braço repleto de pulseiras, que pode ser a necessidade de chamar a atenção e se inserir no grupo.